A besta e a fera
O corte, apesar de pequeno, era profundo o suficiente para não cicatrizar sozinho...era necessário que se fizesse algo para estancá-lo, mas ele fingia não enxergar a cena. Logo ele, que afirmava sua índole e caráter perante todos, que se auto-proclamava como sensível e humano, fingia não ver o quanto sofria, diante de si, seu mais fiel companheiro de tantos anos...
Outro que viesse fazer o curativo...sequer havia mais o traço piedoso que o permitiria, outrora, fazer uso de sua espada e matar sem dor...por compaixão...com um único e rápido golpe.
Sua vida havia mudado: outros planos, vitórias, glórias. Talvez agora se achasse importante demais para sujar suas mãos com o ferimento que ele mesmo havia causado, por descuido e egoísmo...afinal, a fera ainda lhe tinha sido útil para uma última brincadeira.
Ele já estava enfadado daquele amor tão devotado e incondicional, porém igualmente com preguiça de explicar-se e pedir que a fera fosse embora para sempre. Assim, esqueceu-se de soltar as correntes (fingir que algo não existe é uma maneira infantil de "fazer com que" ela não exista)...
A fera tentou voar mas não conseguiu. Ainda tinha os grilhões atados em seus pés. Só poderia andar em círculos, como sempre fizera, protegendo a propriedade dele, velando pelo seu sono e pela sua paz...e cada tentativa de ir só aumentava sua dor. Sendo assim, ficou...
Gritou por socorro uma ou duas vezes...recebeu água e comida, ironicamente levadas por ele mesmo. Mostrou suas chagas, recebeu um afago...porém logo ele se afastava...num silêncio surdo....
Voltando ao salão, era recebido com pompa e música. Todos à sua volta, querendo saber as novidades da última caçada. Ele exibia, orgulhoso, seus troféus. Apresentava novos planos, cada vez mais audaciosos. Pedia à orquestra para tocar mais alto, com o argumento de animar a festa. Mas o fato é que receava os clamores que pudessem vir lá de fora. Sua imagem jamais poderia sair maculada. Afinal, era tudo o que ele tinha, em verdade...
Desnecessário. A fera não gritaria mais...pois não tinha mais forças, nem esperanças, nem revolta. A fera não tinha mais nada, a não ser o tempo diante de si...que usaria para aguardar seu fim.
Outro que viesse fazer o curativo...sequer havia mais o traço piedoso que o permitiria, outrora, fazer uso de sua espada e matar sem dor...por compaixão...com um único e rápido golpe.
Sua vida havia mudado: outros planos, vitórias, glórias. Talvez agora se achasse importante demais para sujar suas mãos com o ferimento que ele mesmo havia causado, por descuido e egoísmo...afinal, a fera ainda lhe tinha sido útil para uma última brincadeira.
Ele já estava enfadado daquele amor tão devotado e incondicional, porém igualmente com preguiça de explicar-se e pedir que a fera fosse embora para sempre. Assim, esqueceu-se de soltar as correntes (fingir que algo não existe é uma maneira infantil de "fazer com que" ela não exista)...
A fera tentou voar mas não conseguiu. Ainda tinha os grilhões atados em seus pés. Só poderia andar em círculos, como sempre fizera, protegendo a propriedade dele, velando pelo seu sono e pela sua paz...e cada tentativa de ir só aumentava sua dor. Sendo assim, ficou...
Gritou por socorro uma ou duas vezes...recebeu água e comida, ironicamente levadas por ele mesmo. Mostrou suas chagas, recebeu um afago...porém logo ele se afastava...num silêncio surdo....
Voltando ao salão, era recebido com pompa e música. Todos à sua volta, querendo saber as novidades da última caçada. Ele exibia, orgulhoso, seus troféus. Apresentava novos planos, cada vez mais audaciosos. Pedia à orquestra para tocar mais alto, com o argumento de animar a festa. Mas o fato é que receava os clamores que pudessem vir lá de fora. Sua imagem jamais poderia sair maculada. Afinal, era tudo o que ele tinha, em verdade...
Desnecessário. A fera não gritaria mais...pois não tinha mais forças, nem esperanças, nem revolta. A fera não tinha mais nada, a não ser o tempo diante de si...que usaria para aguardar seu fim.