domingo, julho 20, 2014

Belas Artes, você e eu

Hoje, o Belas Artes reabriu. O Belas Artes onde vimos 'José e Pilar'; onde, ao final da sessão na qual nos sentamos separados, você correu pra ficar perto de mim e, no silêncio, disse com os olhos que me amava, mas de uma maneira intraduzível em palavras. Isso, antes de sabermos que ficaríamos juntos. Antes de sabermos que você me convidaria para morar com você, um dia. Antes de sabermos que nos separaríamos antes disso acontecer e nos imputaríamos tantas dores vãs, depois. Antes de sabermos que o Belas Artes fecharia suas portas e ficaria assim por três anos.
Muitos foram seus possíveis destinos: banco, igreja, centro cultural. Em meio à possibilidade e indefinição, ele se mantinha em silêncio, reservado, a observar a cidade. Mas seguia lá, sereno. Dele, sentiam falta a cidade e seus amantes, que jamais perderam a esperança e jamais desistiram dele. Acreditaram, sobretudo, que haveria no tempo alguma solução.
E assim foi...
Ter ficado fechado tanto tempo teve propósito e valor. Era necessária a separação, eram necessárias as reformas, internas e externas. A cidade não estava para ele e ele não estava para a cidade naquele momento. Algumas coisas são apenas o que são, e é preciso aceitá-las nesses momentos. Ambos, cidade e Belas Artes, precisavam se recolher, se modificar, se repensar, voltar a olhar um ao outro com o olhar generoso e leve de outros dias; nos quais o que se sente de bom - e o que se sente é sempre tão intraduzível em palavras quanto o seu olhar naquela sessão de 'José e Pilar'-, prevalece sobre qualquer dilema sobre ser cinema, igreja, banco ou centro cultural.
Hoje, repensado, repaginado, reformado, reabriu com grande festa. Três anos não arranharam um amor tão real e inquestionável (de paciência também se faz o amor). Ao contrário, a saudade virou expectativa de encontro; a expectativa de encontro virou festa a celebrar o novo Belas Artes que, sendo diferente, ainda é o mesmo. Tão mesmo quanto a cidade, repensada, que o recebeu de braços abertos, numa fração de segundo onde toda a separação jamais pareceu existir. Tão mesmo quanto o saudoso público, que correu para lhe tocar e sentir no perfume novo a nota já conhecida. Tão mesmo quanto o intraduzível dos seus olhos, ainda e sempre dentro dos meus...