quarta-feira, janeiro 02, 2002

Primeiro, o Robin não é de madeira, logo não é Wood e sim Hood! Mea culpas à parte, dezesseis dias sem escrever é bastante...tantas sensações, tantas risadas e tantas lágrimas...a vida corre mais veloz do que imaginamos, muito mais veloz ainda do que gostaríamos...é claro que Umberto Eco é um bom motivo para passar madrugadas no mundo real, mas o virtual faz igualmente parte da minha vida e escrever é mais que prazer, é me apresentar continuamente a mim.

Mais um ano caputz, e pensar nisso me faz ter em mente um poema do Drummond que recebi, pela primeira vez, de uma das meninas mais inteligentes e cultas com as quais eu já convivi: Marina Vieira, economista. Da segunda vez, novamente de uma menina igualmente inteligente e culta: Fátima Regina, historiadora e advogada. Ei-lo:

"O tempo

Quem teve a idéia
de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ANO,
foi um indivíduo genial,
industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar
no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui por diante vai ser diferente."

Eu não sei se quero que TUDO seja diferente...apesar de 2001 ter sido um ano de marasmo afetivo e profissional, foi quando descobri o prazer de ter a minha turma. Sempre tive amigos, grandes e bons amigos, mas eles nunca foram necessariamente amigos entre si. Pela primeira vez, senti o prazer adolescente de andar em bando e, devo dizer, é muito bom! Talvez pelo gosto da novidade, talvez pelos (alguns re)encontros proporcionados, com gente produzida pelas melhores sementes no mercado e cultivada com caráter, integridade, inteligência e muito amor pra dar...Kindred, the best is yet to come!

No wish list pessoal posso colocar itens que, na verdade, são wishes em todos os minutos de vida nos últimos tempos: realização profissional e afetiva, URGENTE! Quero me orgulhar de mim, quero que as pessoas que me amam se orgulhem de mim...ler, aprender, apreender, evoluir...realizar algo para alguém que me seja estranho, sem interesse nenhum, mas também sem nenhum pensamento de indulgência pós-moderna.

Parêntese para uma digressão: eu fiquei triste neste Natal em função dos temporais que mataram tantos aqui no Rio, mostraram a falta de estrutura de nossas cidades e acabaram me impedindo de ir para Macaé, onde estava minha mãe. Mas eu fiquei muuuuuuuuuuuito feliz neste Natal, pela experiência inédita de ter ficado sozinha, o que me permitiu tirar tantas conclusões sobre a data.
Eu, que pensava odiá-lo, concluí que não é bem isso. Odeio, sim, o que a grande maioria da sociedade faz COM o Natal. Não me considero nem um pouco católica, pois apesar de batizada (sem nenhuma consulta ao que eu achava disso, no auge dos meus seis, sete meses de idade) não respeito os dogmas, não sigo as regras e questiono milhões de aspectos do catolicismo... e de todas as religiões. NÃO, pra mim Jesus NÃO é meu salvador!!! Não vejo as coisas por este aspecto. Pra mim, ele é um dos homens mais extraordinários que já passaram por aqui, e deixou uma mensagem absurdamente importante, talvez das mais importantes, mas esse papo salvacionista definitivamente não é pra mim!
Sou altamente ecumênica e crente nos mistérios da alma e da fé, e tudo o que vi e vivi me faz realmente perceber que há uma energia muito forte em tudo o que ele representa, portanto sempre encarei com MUITA seriedade o Natal. É UMA FESTA RELIGIOSA, CACETE!
Então eu NUNCA vou me conformar com os acessórios, com tudo que foi sendo pendurado ao longo dos anos, desvirtuando totalmente o sentido da celebração. Gente se empaturrando de tanto comer, bebendo até cair, os pobres de espírito que vão pro bloco do Papai Noel e saem na porrada; o próprio Papai Noel, um ser altamente torturante, que só serve para tornar ainda mais exposta a fratura social do nosso mundo...Os parentes que não se amam mas se obrigam a passar a data juntos, forçando a separação dos amigos que se amam, em função da tradição...eu quero mais é que a tradição vá pro meio da beirada!!!!!!!!!!!!!! Odeio até mesmo a empolgação que eu chamaria de vingança do peru: ele morre de véspera, e a pessoas passaram a também comemorar na véspera! Ficam incontroláveis, na ânsia da virada da meia-noite, como se fosse um ensaio geral de reveillón, esquecendo que há o dia 25 inteiro, que dura 24 horas, para ser celebrado!
Num momento de reflexão, de pensar no que um ser brilhante deixou de ensinamentos que podem ser postos em prática por cada um de nós, tem gente reparando na roupa que fulaninho ou fulaninha escolheu e se a maquiagem está no tom. Eu pergunto: isso está no tom????????
E, para aliviar tanto materialismo, tome do que eu resolvi chamar de indulgência pós-moderna!!! Ou alguém tem nome melhor para campanhas que levam as pessoas do nada para lugar nenhum? Natal sem fome, há! E desde quando as pessoas sentem fome somente no Natal?!? Puta que pariu, é o auge da hipocrisia! Você entra num shopping, gasta fortunas comprando presentes para todas as sobrinhas e primos e tios que só vê uma vez no ano e não sabe nem o sorvete preferido deles, nem se preferem café ou Nescau no leite, ou mesmo se tomam leite...e depois doa não sei quanto para as cestas de Natal dos necessitados. Quem deles todos você conhece mais? Quem deles todos você conhece menos? Mas o coração sai leve, evocando os tempos medievais em que era possível pagar literalmente pelos seus pecados e tê-los perdoados pela santa madre igreja...
Precisa-se sim, de comida, todos os dias do ano!!!!! Mas se eu nunca tenho meios próprios para adquirí-la, pois não tenho educação, nem formação profissional, nem oportunidade, fico para todo sempre, amém, na dependência do que o senhor caridosamente deposita nos pés do meu colchão, de esmola...
Deus do céu, Deus da terra, Deus de todos os momentos e lugares...quanta vergonha de sua criação, não? Além de fingir que estão ajudando aos seus semelhantes e acharem que isso é grande coisa, ainda colaboram para manter o status quo de todo esse grande circo romano, pois o zé (assim mesmo, com letras minúsculas), sem sobrenome, sem documento, sem casa, escola, alimentação balanceada, orientação quanto à controle de natalidade, educação ambiental e cidadania, nunca terá coragem de sequer pensar mal do Senhor Doutor que lá do sul enviou caridosamente uma cesta de alimentos...tão bonzinho o doutor, agradece o zé com lágrimas nos olhos...um dos poucos líquidos abundantes na região...e quando acabar a cesta de alimentos, sua vida mudou em quê? Seu futuro, seus filhos...

Por essas e tantas outras que digo não querer me inserir na filosofia indulgente. Fazer algo sim! Talvez uma campanha do Natal COM fome. Que tal? A todo necessitado garante-se alimentação durante o ano, desde que jejue no Natal. Não tenho as respostas, mas estou absolutamente disposta a encontrá-las, sozinha ou com quem se dispuser a pensar e agir comigo.

Sim, este post é enorme...mas o blog é na verdade um único post...é o post da minha vida, vida que vou vivendo e morrendo a cada segundo. Tá difícil parar de escrever, tá foda não pensar no Sérgio, que aos 22 anos nos assite, de alguma forma, discutindo sobre os mistérios da morte e da vida, enquanto seu corpo jaz em uma cama de CTI e passa por tantos sobressaltos, tantas lutas para plugá-lo de volta àquela massa em colapso e nos mostrar que sempre vale a pena, que sempre há um caminho...

Quero e não quero escrever mais...cansei, chega por hoje ( e, nesse instante, me pergunto e desejo que haja amanhã!)...não consigo ainda acreditar que eu ouvi daqui de casa o acidente, quando ele já estava a caminho do hospital...foi muito surreal ter ligado esses pontos hoje.